O grande projeto em 2023: Elite Academy

O grande projeto em 2023: Elite Academy

Tempo de leitura: 14 minutos

Em Maio de 2023 lançamos uma plataforma de educação – Elite Academy – que reúne praticamente todo o conteúdo on-line desenvolvido pela Elite Training desde a sua fundação em 2014.

A decisão de reunir todo esse conteúdo em uma única plataforma não foi algo simples, já que muitos materiais que disponibilizamos foram elaborados e construídos junto a parcerias nacionais e internacionais e por essa razão a fatia do bolo era sempre dividida respeitando os contratos de parceria, e como alguns já devem saber, quando reunimos tudo em uma única plataforma de acesso, o assinante tem acesso a tudo por um único valor. No entanto, após longos meses de negociação com nossos parceiros, chegamos a um acordo que fosse de encontro ao interesse de todos.

Para nós, o lançamento dessa plataforma educacional foi um marco importante, pois permitiu que pudéssemos dar continuidade na criação de materiais, facilitando a produção e desburocratizando o acesso, e assim tornando um produto com maior viabilidade financeira para os profissionais interessados.

A Busca por Informação

A manutenção de uma plataforma educacional é um desafio, especialmente quando o objetivo principal é manter um fluxo constante de conteúdo de qualidade. Com a expansão do mercado de educação on-line a quantidade de informação aumenta em detrimento a qualidade e isso requer uma atenção especial do profissional que não deve aderir a qualquer plataforma sem antes pesquisar a procedência e confiabilidade do conteúdo.

Em nosso caso, sempre que criamos algo em colaboração com outros profissionais nacionais ou internacionais, procuramos por aqueles com grande nível de experiência no assunto e que acreditamos reunir qualidades que possam transferir para um conteúdo educacional de qualidade, seja em em formato de material teórico ou prático. Muitas vezes essas pessoas não são populares em grande escala, ou seja, apesar de possuir um nível de competência extraordinário e um currículo profissional extenso, suas “presenças de mídia” são apenas ordinárias, e em alguns casos quase que inexistentes, especialmente para o público no Brasil. Mas isso não é impedimento para nós, pois como disse anteriormente, o provedor da informação é tão (ou mais) importante do que a informação em si.

Em 2016 fizemos uma parceria internacional com o treinador e pesquisador Australiano Dan Baker para ministrar cursos sobre o Treinamento Baseado em Velocidade (VBT) e Sistemas Energéticos. Embora Dan Baker fosse um PhD com dezenas de publicações na área, presidente da ASCA (Australian Strength & Conditioning Association) e 30 anos de experiência como preparador físico, especialmente no Rúgbi, para a maioria do público brasileiro, Dan Baker era um desconhecido. Mesmo assim, realizamos mais 10 eventos com ele no Brasil e em Portugal, todos com lotação máxima.

Foto com Dan Baker PhD durante certificação em Lisboa, Portugal em 2017

A Fonte de Informação

Todo mundo tem opinião sobre tudo

Nem toda fonte de informação é útil. Há vários meios para se atrair a atenção das pessoas e fazer com que elas dêem mais valor para algo do que realmente merece. Em minha opinião, quem fornece a informação é mais importante do que a informação em si. Por exemplo, se você quer saber sobre o conflito entre Israel e o grupo Islâmico Hamas e um comentarista esportivo emite uma opinião política durante um programa de esportes (o que já vi acontecer muitas vezes), por mais que ele esteja exercendo o seu direito de livre discurso, você com certeza deveria checar fontes mais confiáveis, nesse caso, as de comentaristas políticos especializados no assunto.

Na verdade, esse é um dos grandes problemas que o mundo tem enfrentado com o crescimento e popularização das mídias alternativas, onde pseudo-intelectuais, pseudo-jornalistas, pseudo-médicos, emitem opiniões sobre qualquer assunto sem possuir o conhecimento mínimo necessário para tal. Isso acontece porque o objetivo final dessas pessoas quase nunca – com raras exceções – é o de educar seus ouvintes, estimulando a racionalidade e o pensamento crítico, mas sim gerar polêmica ou sinalizar algum tipo de “virtude” para manter sua popularidade e ganhar “likes”.

Nos podcasts e mini-cursos que produzimos em nossa plataforma, buscamos por profissionais que comprovaram sua competência no campo prático, acadêmico ou ambos. Abordamos os mais variados temas relacionados ao treinamento, mas com objetivo de gerar profundidade na discussão e não deixar detalhes importantes para trás. Ou seja, que o ouvinte ou espectador possa obter o máximo de informações sobre tema, que elas possam ser aplicadas na prática e que ao final o profissional possa extrair algo de valor para seu trabalho.

Como Selecionamos a Informação

Uma das diretrizes mais importantes para criação de nosso conteúdo é proveniente do feedback e canais de comunicação que estabelecemos com nossos clientes. Esse feedback muitas vezes acontece de maneira indireta, ou seja, um cliente ou interessado em nossa plataforma entra em contato conosco faz perguntas sobre o conteúdo e durante nossa comunicação ele externa alguns dos temas nos quais ele tem mais interesse, suas carências de informação e temas emergentes no qual ele quer se aprofundar mais. Ao longo do tempo detectamos denominadores comuns nessas interações, ou seja, os temas e tópicos que parecem despertam o interesse da maioria dos profissionais que interagimos. Por exemplo, um profissional que procura por conteúdo sobre o treino de habilidades de movimento para corrida, outro relata estar em busca de conteúdo sobre mudança de direção para o futebol e um outro que está em busca de aulas sobre como planejar sessões endereçando diferentes capacidades físicas. Embora essas “solicitações” pareçam divergir, elas na verdade se convergem em uma ou mais disciplinas, como por exemplo biomecânica e teoria do treinamento.

Essa é uma das maneiras que usamos: filtrar informações usando feedback para criar conteúdos que respondem ao interesse de nossos clientes. No entanto, em meus anos de experiência ministrando cursos por todo país, fica mais simples enxergar algumas carências que acometem a maioria dos profissionais do e que detectamos também quando analisamos os dados sobre o índices de aproveitamento das avaliações on-line que solicitamos ao final de algumas certificações.

Ciências Básicas

Quando citamos o termo ciências básicas, muitos profissionais começam a bocejar e pensam: “isso eu já vi na faculdade”. Embora disciplinas como Fisiologia Humana e do Esporte, Anatomia, Biomecânica, Cinesiologia etc., sejam ensinadas durante a graduação, isso não significa que elas foram abordadas com a abrangência e frequência necessária para que o profissional pudesse carregar essas informações para toda sua carreira. Existem alguns motivos pelo qual esses temas devem ser revisitados ao longo da carreira profissional e vou listar alguns dos mais importantes:

Maturidade

A idade média no qual um indivíduo ingressa na universidade é entre 18 a 20 anos. Nesse momento, ele ou ela já podem se considerar profissionais em formação. No entanto, nessa faixa etária existem uma série de outros interesses pessoais que competem com interesses profissionais e que interferem na qualidade do aprendizado. Por exemplo: novas amizades, festas universitárias (e noites mal dormidas), emprego para ajudar nos custos de educação e a falta de maturidade para organizar um cronograma de estudos semanal com objetivo de reter e aprofundar nas informações vistas durante as aulas. Especialmente tratamos das ciências biológicas que por sua complexidade, requerem mais tempo de exposição para serem compreendidas. Algumas dessas estratégias de estudo foram discutidas no artigo “Dificuldades Desejáveis” nesse blog.

Experiência prática

Muitas das informações na qual somos expostos, especialmente nos primeiros anos de universidade, acabam não significando muito para a sua aplicação profissional. Por exemplo, todos nós temos alguma lembrança da época do ensino médio, quando o professor ensinava cálculos matemáticos complexos e você pensava: “Eu nunca vou usar isso na minha vida”, para anos depois se deparar com situações nas quais o conhecimento desses cálculos básicos poderiam te ajudar a compreender conceitos mais complexos de treino como por exemplo no cálculo e prescrição de cargas de treino semanais, mensais e anuais para seus atletas e clientes.

Na universidade a mesma coisa acontece, pois na maioria das vezes esse profissional em formação não consegue enxergar a abrangência da área e prever as situações nas quais essas informações poderiam lhe ser úteis no futuro. Por isso a importância dos estágios em vários segmentos da área durante a graduação.

Você esquece

No livro Brain Rules, o professor e especialista sobre o funcionamento do cérebro, John Medina descreve como o esquecimento desempenha um papel vital em nossa habilidade em priorizar. Para isso, ele conta a história do jornalista Russo Solomon Shereshevskii, nascido em 1886 e que parecia ter uma memória ilimitada. Ele conseguia memorizar listas de extensas de combinações de letras e números em questão de segundo e depois repeti-las de frente para trás e de trás para frente. O experimento mais interessante realizado com Salomon aconteceu quando o psicólogo Alexander Luria o fez memorizar uma fórmula complexa de 30 números e letras ele guardou essa fórmula na gaveta por 15 anos. Passado esse tempo, Luria recuperou a lista, achou Salomon e pediu para ele reproduzir a fórmula novamente. Salomon descreveu a fórmula na hora, sem nenhum erro ou hesitação.

No entanto, a vida de Salomon não foi repleta de momentos agradáveis, pois sua capacidade extraordinária de lembrar de tudo de maneira tão clara e detalhista rendeu a ele a perda da habilidade de organizar sua memória em padrões significativos. Como se ele vivesse em meio a uma tempestade, ele enxergava a vida em fragmentos ofuscantes de informações sensoriais. Ele não conseguia enxergar as coisas “de fora”, ou seja, ele não conseguia estabelecer conexões entre diferentes informações, enxergar denominadores comuns e padrões. Ele não conseguia esquecer.

Voltando para nossa realidade, o exemplo acima serve para ilustrar a ideia de que esquecer das informações faz parte do funcionamento normal do cérebro e para que uma memória de curto prazo se torne memória de longo prazo é necessário prática, revisão, reflexão sobre diversos temas e em vários momentos da vida (dentre outras estratégias que Medina descreve no livro).

Momento certo (Timing)

Você pode adotar todas as estratégias existentes para tornar o aprendizado mais eficiente, mas se você não estiver interessado no objeto de aprendizado, nenhuma dessas estratégias vão funcionar. O problema é que nossos interesses variam ao longo da vida. Isso acontece porque passamos a enxergar o mundo, as pessoas e a nós mesmos de modo diferente. Começamos a apreciar arte, outros estilos de música e beleza, comidas, e o mesmo acontece no campo profissional. É muito comum histórias de pessoas que ingressaram em um curso universitário e logo no primeiro ano desistem para ingressar em outra área completamente diferente. Eu tenho vários exemplos de colegas que no primeiro ano de educação física abandonaram o curso para se tornar advogados, empresários e dentistas.

Portanto, para que uma informação possa ser aprendida e memorizada, o momento da vida no qual você é exposto a ela faz toda diferença. Não apenas o momento com relação ao ambiente e as emoções agudas na qual uma informação pode ser melhor memorizada, mas momentos da sua evolução cognitiva e maturação profissional. Por exemplo: em algum momento da minha carreira eu passei e me interessar 1(quase que integralmente) por assuntos relacionados a nutrição. Comecei a ler e estudar sobre os efeitos dos alimentos processados no organismo, desequilíbrios hormonais decorrentes da má alimentação, diferença dos alimentos orgânicos para os de cultivo convencional e perfil metabólico individual. Meu interesse era tamanho, que considerei ingressar novamente na universidade para cursar nutrição.

Apesar de não ter ingressado em no curso nutrição e não ter me tornado um especialista no assunto, guardo essas informações em minha memória até hoje. Isso me ajudou – e me ajuda – a fazer conexões com assuntos sobre performance esportiva, estabelecer diálogos com nutricionistas, ter conversas informadas com os atletas, criar minhas próprias estratégias de alimentação, entender origem e procedência dos alimentos e ler (e entender) informações nutricionais dos rótulos e embalagens.

Nenhuma dessas considerações eu seria capaz de fazer durante os dois semestres de nutrição que tive na universidade, mesmo que os professores se esforçassem para tal, eu simplesmente não estava interessado.

A ciência evolui

A década de 90 foi marcada pela ascensão da internet (World Wide Web – www). Essa década presenciou o início do alcance global dos meios de comunicação e os impactos profundos em todas as áreas, tanto as comerciais, como a do entretenimento e da ciência.

Os avanços tecnológicos na área da genética, biotecnologia, nanotecnologia, inteligência artificial, medicina e saúde acontecem em grande velocidade e os profissionais por sua vez se veem diante de um grande desafio: o de como fazer sentido de todas essas informações de modo que elas possam nos guiar para criação de práticas seguras e responsáveis.

Isso não significa que houve grande mudança nos princípios fundamentais das ciências (física, química e biologia). Embora os avanços representem um progresso significativo nas respectivas áreas, eles são consistentes e “construídas” sobre princípios básicos. Portanto, as novas descobertas permitem um aumento do nosso entendimento a abrem espaço para mais pesquisas e aplicações.

Se você estiver se perguntando o que as áreas da ciência citadas acima tem a ver com a sua profissão de treinador, elas simplesmente consistem das leis que regem tudo o que manipulamos em um individuo quando aplicamos um programa de treino. Biomecânica, Fisiologia e Anatomia são sub áreas dessas ciências e nas quais extraímos o conhecimento (métodos) que se traduzem em estímulos (sessões de treino) para melhora da performance e saúde.

Próximos passos

Assim como tudo na vida, nosso foco é o de continuar evoluindo. Se você quer saber se temos um plano de longo prazo traçado e no qual trabalhamos todos os dias para cumprir a resposta é não. Eu realmente acredito no conceito de que ao traçar objetivos ou metas rígidas, indivíduos ou organizações tornam-se “escravos” desses objetivos vivendo em um estado de insatisfação, pois qualquer conquista nunca é o suficiente. Esse estado de insatisfação, com o tempo, pode ter um efeito negativo sobre o comportamento individual e um grupo.

Objetivos e metas mudam com o tempo, especialmente nos dias atuais onde as mudanças socio-econômicas acontecem em ritmos mais acelerados. Sabemos o que queremos hoje e trabalhamos todos os dias para atingir esse objetivo e fazendo isso todos os dias nós podemos “projetar” um futuro, mas não abrimos mão de estar atentos as constantes variações do ambiente. Assim como um velejador, que apesar de saber o seu destino final, não pode ignorar a mudança dos ventos e das marés.

  1. A ponto de viajar para realizar dois cursos no Canadá, na época um dos centros com maior número de profissionais especialistas no assunto ↩︎

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